quarta-feira, 10 de junho de 2009

Como é ser mulher em Oliveira do Hospital

“Bundas a subir na vida, bundas mais importantes que as suas donas” – Arnaldo Jabor

Desde que há memória as diferenças, quer a nível biológico como nível psicológico, entre o sexo feminino e masculino têm um grande peso na sociedade. Foram as diferenças que fizeram com que a mulher tenha sido inferiorizada ao ponto de não ter direitos e de ser tratada como sendo o “sexo fraco”.

No século XX avistámos a justiça que tardava em chegar: a emancipação da mulher estava às portas da sociedade. No entanto não passou de uma miragem. Contudo ainda há opiniões como a de Robespierre: “as mulheres aceitam novas ideias porque são umas ignorantes e espalham-nas facilmente porque são levianas”.

Com o passar de um século as mentalidades deviam ter mudado. A verdade é que homem e mulher são diferentes, mas um não é melhor ou maior que o outro. São apenas diferentes, e estas diferenças em nada devem impedir a igualdade de direitos!

Ouvi, há uns anos uma piada de mau gosto sobre os portugueses: “os portugueses usam bigode e batem na mulher, as portuguesas usam bigode e levam porrada do marido”… Hoje em dia, principalmente em meios pequenos, ainda se assiste a muita discriminação entre sexos. Se nos centrarmos no nosso concelho comprovamos que a mulher ainda é vista como sendo o sexo mais fraco, pior, como sendo um bem do homem. Mas será tudo isto culpa do sexo masculino? Ou caberá uma fatia dessa mesma culpa a nós mulheres?

No nosso concelho, a ideia de “a mulher casada, homem lhe basta” é seguida como directriz principal formando machistas e criando uma mulher frágil e inerte. A culpa? De ambos. Do homem porque fragiliza, e da mulher porque se deixa fragilizar. Quantas mulheres são vítimas de violência doméstica!? Quantas vivem uma tortura silenciosa!? Quantas não têm coragem de pôr termo a uma existência purgante!?

“Luísa, sobe, / sobe que sobe, / sobe a calçada. / Chegou a casa / não disse nada. / Pegou na filha, / deu-lhe a mamada; / … / desarranjada; /coseu a roupa / já remendada; / despiu-se à pressa, / desinteressada; / caiu na cama / de uma assentada; / chegou o homem, / viu-a deitada; / serviu-se dela, / não deu por nada. / Anda, Luísa. / Luísa, sobe, / sobe que sobe, / sobe a calçada...”[1]

Ser mulher em Oliveira do Hospital é ser mulher rural, que cuida da família, que limpa a casa, que tem um trabalho com menos mérito que o marido, sendo seu dever ficar em casa quando este sai. Nem outra coisa seria bem vista aos olhos de uma população parada no tempo! Mesmo aquelas que mantêm um trabalho, não devem esquecer o seu lugar. Quão triste é este país! Para sempre: manda quem pode, obedece quem deve. Estarei a mentir?? Antes estivesse…

As mentalidades são fechadas e retrógradas. Nas povoações mais afastadas a escassa informação conserva uma mulher rural que é mãe, dona de casa e um objecto de prazer sexual. Toda uma harmonia atroz que transforma uma vida numa expiação!

Num meio, onde tudo se sabe, em que a vida particular de uns é esmiuçada pelos outros, onde se vive da aparência, mais rapidamente ouvimos um comentário pejorativo em relação a uma mulher que deixou o marido, do que em relação a um marido violou o sagrado matrimónio! Ser mulher é ainda um fardo que a ignorância obriga algumas a carregar.

Poder-se-iam apostar núcleos culturais para o apoio e incentivo de mulheres críticas e corajosas. Todavia pôr-se-ia o problema: elas adeririam? Talvez preferissem espectáculos como o “pimba, pimba” do Emanuel ou o “eu gosto de mamar nos peitos da cabritinha” do Quim Barreiros…

É necessária uma abertura para a mulher empresária, para a mulher escritora, para a mulher artista! A igualdade de deveres e direitos para ambos os sexos tem de ser promovida continuamente! A passividade com que a mulher oliveirense age perante o papel de sexo fraco que lhe atribuem e que ela própria encarna é completamente hedionda! Basta de estereótipos e preconceitos! A república é uma mulher!

Abaixo os sexistas, abaixo todos os que crêem que a mulher foi criada a partir do homem! A mulher é, FELIZMENTE, diferente do homem! E o facto de não serem iguais não impede a igualdade de direitos. Justiça é tratar o que é igual de forma igual e tratar o que é diferente de forma diferente. Aceitem-no e habituem-se!



[1] Calçada de Carriche, António Gedeão

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