quarta-feira, 10 de junho de 2009

RVCC

Nos últimos anos tornou-se comum ouvir falar de RVCC - Reconhecimento, validação e certificação de competências. Do Governo da República ao comum dos cidadãos esta é apresentada como uma grande novidade no campo da educação, qual “ovo de Colombo” descoberto para resolver a nosso semi-analfabetismo, a nossa tão falada iliteracia. O slogan que se ouve nos meios de comunicação é: “Aprender compensa.”
Aos milhares, como reitera, quase todos os dias, o Sr. Primeiro-Ministro, os portugueses estão a voltar à escola, as suas competências estão a ser certificadas, os cidadãos, agora novamente alunos, dos Centros de Novas Oportunidades, estão a sair ao fim de alguns meses com o certificado de equivalência do 9º Ano ou do 12º Ano.
Parece-nos que a ideia que subjaz às Novas Oportunidades é, no seu âmago, correcta, aliás, ela foi importada do Norte da Europa, de onde nos vêm os bons exemplos no campo educacional, dizem-nos os pedagogos, analistas e políticos. No entanto, e para começar, não podemos comparar o grau de instrução e de conhecimentos da nossa sociedade com os nórdicos.
Todos sabemos, antes não soubéssemos, como a nossa grave falha na instrução / na aprendizagem formal, tem raízes históricas, fundadas na debilidade económica, social e cultural. Se a Primeira República tentou implementar as medidas no campo educativo que permitiriam pôr fim a mais de 70% de analfabetismo, em 1926 iniciou-se um período ditatorial que só terminou em 1974 e que negligenciou a educação. Os nossos pais herdaram a incipiente cartilha da educação salazarista e, numa ânsia de liberdade, lutaram mais pelo pão do que pela educação. Esta, continuou a ser, nas décadas subsequentes à revolução dos cravos mais uma miragem do que uma realidade para todos. O material imperou, a escolaridade não foi valorizada pela sociedade e também não foi decisivamente impulsionada pelos governantes democráticos.
Chegados ao século XXI, eis-nos enredados numa teia complexa de reformas educativas experimentadas, retalhadas, reformuladas e fracassadas, sucessivamente levadas a cabo pelos vários Ministérios da Educação, da esquerda à direita...
Consequentemente, estamos na cauda da Europa civilizada, com índices de escolaridade, de instrução e de educação muito superiores aos nossos. Os dados fornecidos pela OCDE provam-no.
Os nossos governantes actuais esquecem-se, no entanto, que essa caminhada da Europa desenvolvida tem séculos de investimento sério no sistema educativo. Temos um longo caminho a percorrer se queremos o trabalho bem feito… Precisamos de políticas educativas coerentes, sérias, feitas com adequação à nossa sociedade e ao nosso “modus vivendi”.
Esta proposta, baptizada de Novas Oportunidades, é na prática uma hedionda trama para fazer de conta que em (poucos) meses se aprende o que se devia aprender em doze anos de escolaridade. Afinal, é preciso dizer “o rei vai nu”… Como nuas vão ficar todas as pessoas que vão atrás do slogan apelativo inventado ou perpetrado por políticos pouco sérios.
Validem-se competências sim quando elas existem… mas não se inventem “passes de mágica” para dar a aprendizagem, o conhecimento, porque, pura e simplesmente eles não existem.
Os portugueses precisam ter a noção que aprender só se faz com exigência, com sacrifício, com tempo…
Por este caminho vamos atingir patamares nunca imaginados nas estatísticas nacionais e europeias. Infelizmente, na prática só acicata o facilitismo, a incompetência, a ignorância.
Sejamos honestos e exijamos o que é nosso direito ter: educação séria e políticos sérios rumo a um país que queremos desenvolvido.

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